
Primeiramente, é necessário abordar que as mudanças climáticas que vem ocorrendo atualmente aumentam o risco do surgimento de novas pandemias e doenças infecciosas na população em geral, podendo notar esse impacto no aumento da temperatura do planeta, por exemplo, que é responsável por processos de hipertermia, ou seja, quando o corpo apresenta um aumento acentuado de temperatura. O maior volume de chuvas e desastres também é outra condição que eleva o risco das doenças infectocontagiosas, como leptospirose, hepatites, dengue, chikungunya e zika. Além disso, entre os principais fatores que podem influenciar a saúde humana estão os extremos de temperatura e umidade. Ondas de calor e frio podem ficar mais intensas e afetar diversos sistemas do nosso organismo. É comum a associação do frio com o desenvolvimento de doenças respiratórias. No entanto, o sistema circulatório também pode ser prejudicado, já que as ondas de frio podem prejudicar a saúde de pessoas propensas a doenças do coração, em que o desconforto térmico aumenta a probabilidade de piora do quadro, pois no frio a tendência natural do corpo é encolher. Com isso, ocorre a vasoconstrição e como os pacientes cardiovasculares geralmente apresentam os vasos sanguíneos já preenchidos por gordura, nessa condição, o coração precisa forçar muito mais o bombeamento de sangue e por isso bate mais rapidamente.
Além disso, dizer que o dia está mais quente ou que as chuvas estão mais fortes deve se tornar algo mais comum nos próximos anos no Brasil, por conta das mudanças climáticas. E, segundo pesquisadores, a forte desigualdade social existente no país deve ter impacto direto sobre quem mais sofrerá com os efeitos das mudanças climáticas na saúde pública seja pelo surgimento de novas doenças ou pelo crescimento do número de casos de arboviroses que são doenças transmitidas principalmente por mosquitos já conhecidos, como a dengue, a malária e a febre amarela. Cassia Lemos, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é uma das brasileiras que tem se dedicado a prever como as mudanças climáticas devem impactar o sistema de saúde do Brasil. A articuladora da AdaptaBrasil, plataforma que mostra os potenciais riscos das mudanças climáticas no país em diversas áreas, afirma que estudos já mostram que as doenças que mais devem aumentar com as mudanças climáticas são as arboviroses. Além da dengue, que já é um problema, as novas projeções mostram que a malária deve se alastrar ainda mais pela região Norte e atingir de forma intensa o litoral do Nordeste até 2050. As projeções da plataforma criada pelo governo federal, em parceria com instituições de ensino de pesquisa do Brasil, também apontam para o aumento de casos de leishmaniose tegumentar americana e leishmaniose visceral. Para chegar às previsões, os pesquisadores analisaram o perfil epidemiológico das infecções, as especificidades de cada doença e dados sobre o desenrolar da condição de saúde, como por exemplo, hospitalização ou morte. Em seguida, foram considerados os aspectos socioeconômicos e demográficos de cada município, a organização e a qualidade do sistema de saúde em escala municipal para responder às demandas sanitárias pelas doenças e para promover a vigilância e controle dos vetores. Com isso, percebe-se que não é somente o aumento de temperatura ou eventos climáticos extremos que irão causar as doenças, mas as próprias características socioecológicas da população brasileira devem favorecer a proliferação dessas patologias também.
Ademais, para Leandro Gurgel, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), outro fato que devem contribuir para que as arboviroses sejam um problema maior no futuro é que os mosquitos e pernilongos levam ao “pé da letra” a Teoria de Seleção Natural de Charles Darwin, em que todos nós temos um limite de tolerância de temperatura, seja superior ou inferior, mas o que tem sido notado é que os vetores se adaptam cada vez melhor a esses extremos climáticos. Isso os torna um problema cada vez maior para a saúde pública do mundo, pois os mosquitos estão se tornando cada vez mais resistentes, e possuindo mais exemplares e consequentemente conseguem atingir mais pessoas transmitindo as doenças. Como exemplo, o pesquisador da Fiocruz cita a capacidade de reprodução do Aedes aegypti um dos vetores mais conhecidos dos brasileiros por transmitir a dengue, a chikungunya e a zika vírus. Uma vez que, o Aedes aegypti é um mosquito cada vez mais adaptado às mudanças do clima. Antigamente, ouvia-se que ele somente se reproduzia em água limpa e parada. Atualmente, sabe-se que ele se reproduz em lixo, água suja e que o ovo do mosquito pode se manter viável por mais de um ano sem água. Hoje em dia, não é apenas picando uma pessoa contaminada que o vetor se contamina e transmite a doença. O simples ato de uma fêmea “grávida” do Aedes aegypti picar uma pessoa com dengue, automaticamente, faz com que ela contamine até 50% dos seus “filhos”. Ou seja, são novos Aedes que já apresentam capacidade adquirida de transmitir doenças em sua origem.
Todavia, não são apenas as doenças arboviroses que devem aumentar no futuro. Estudos mostram que doenças respiratórias, cardiovasculares e até renais devem aumentar no Brasil a partir do acréscimo de 1,5ºC a 4ºC na temperatura média até o final deste século, conforme projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas. Para se ter uma ideia, uma pesquisa que avaliou os registros de saúde de 1.816 cidades brasileiras entre 2000 e 2015 sugere que o aumento de 1ºC na temperatura média pode ter elevado em quase 1% o risco de internações por doenças que afetam os rins. A pesquisa foi realizada pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Monash, da Austrália. Segundo os estudiosos, grande parte das doenças renais ocorrem devido à desidratação, o que deve se agravar a partir do aumento da temperatura nos próximos anos. Ao mesmo tempo, outro estudo do Salud Urbana en América Latina (Salurbal), publicado na revista Nature Medicine, constatou que quanto maior a temperatura, maior o risco de morte por doenças cardiovasculares e respiratórias. Para chegar à conclusão, os pesquisadores analisaram a relação entre as temperaturas altas ou baixas demais e a mortalidade em 326 cidades de nove países da América Latina, entre 2002 e 2015. O que foi notado é que tanto para as temperaturas extremas para baixo (frio), quanto para as temperaturas extremas para cima (calor), aumenta o risco de morte para as doenças. Entretanto, quando é maior a temperatura para cima (calor), esse risco de óbito aumenta, explica Waleska Teixeira Caiaffa, médica brasileira que participou do estudo e coordenadora do Observatório de Saúde Urbana da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Isso porque a exposição em longo prazo às altas temperaturas diminui a capacidade do corpo de ter uma temperatura constante, levando à insolação, síncope e exaustão ao calor o que causa maiores chances de a pessoa ter uma AVC, por exemplo. Sendo assim, os dados somente evidenciam como as mudanças climáticas não são uma pauta que deve estar ligada somente ao meio ambiente, mas a todos os setores, pois todos de alguma forma vão ser afetados pelo aumento da temperatura ou eventos climáticos extremos.
Portanto, as mudanças climáticas alteram as condições ambientais e, assim, surge uma desregulação daquilo que ocorria naturalmente no ambiente. No cenário de aumento da temperatura, ocorre não apenas a disseminação de novas doenças, mas também o ressurgimento de doenças adormecidas. Tudo indica que novas pandemias e epidemias vão se tornar cada vez mais frequentes, e o ser humano vai vivenciar uma situação de grande instabilidade. Com isso, é necessário organizar o serviço de saúde, pois o sistema de saúde atual não está preparado para as novas demandas da emergência climática, uma vez que o sistema consegue lidar com um determinado conjunto de doenças, mas com o surgimento de novas enfermidades a situação pode entrar em colapso emergencial.
Redigido por: Thamires Caldatto
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